Vegetação

Um Mapeamento da Cobertura Vegetal e Inventário da Flora Arbórea da Reserva Natural Veredas dos Buritis foi realizado em Janeiro / Fevereiro 2021 pelo engenheiro florestal Ricardo Haidar com o apoio fundamental de Seu Emílio Kalunga .

Os objetivos do inventário eram:

  1. Mapear a cobertura vegetal, em escala detalhada e compatível com as necessidades do Plano de Manejo da Reserva Natural Veredas dos Buritis.

  2. Reconhecer a composição, estrutura e diversidade das tipologias vegetais (fitofisionomias) mais representativas dentro da Reserva.

  3. Determinar os gradientes de substituição de espécies dentro das principais comunidades vegetais.

  4. Identificar as potencialidades de uso sustentável da flora nativa.

Conhecer a composição, estrutura e diversidade da cobertura vegetal em uma região é primordial para entender as relações ecológicas e decifrar a influência das variáveis ambientais (rochas, relevo, solos, profundidade do lençol freático) que controlam a paisagem. Sobretudo nas paisagens do bioma Cerrado, onde muitos tipos de florestas e cerrados coexistem devido ao complexo mosaico local de heterogeneidade do substrato e ao histórico do fogo. Entender essas relações permite a detecção de potencialidades e fragilidades de processos e mecanismos de regulação da dinâmica dos recursos naturais, como biodiversidade e as águas superficiais e subterrâneas.

A Veredas dos Buritis apresenta um notável mosaico de formações savânicas (veredas, cerrado ralo, típico, denso e rupestre) e florestais (mata de galeria não inundável e inundável), que se distribuem na paisagem conforme aspectos do relevo, solos e da pegada humana (introdução de gado e fogo). As diferentes intensidades da intervenção humana resultaram em áreas com distintas situações: conservadas, preservadas e alteradas em processo de regeneração. Os limites entre a mata de galeria e o cerrado sensu stricto constituem riquíssimas áreas de tensão ecológica que, no microclima da era geológica atual (holoceno), quando protegidas da passagem do fogo, tendem a representar expansão de áreas de floresta (mata de galeria) em detrimento às áreas das formações savânicas. Por outro lado, quando os incêndios são corriqueiros há a expansão das savanas, composta por espécies adaptadas ao fogo, e retração das áreas florestadas cujas espécies, em sua maioria, são sensíveis aos incêndios recorrentes.

Fitofisionomias do Cerrado, presentes na Veredas dos Buritis

Vereda
Cerrado rupestre
Cerradão
Mata de galeria
Cerrado típico

Vereda

Cerrado rupestre

Cerradão

Mata de galeria

Cerrado típico

Foram registradas 130 espécies arbóreas e palmeiras em ambientes de savanas e florestas da Reserva Natural Veredas dos Buritis

Em escala mais detalhada, os gradientes de substituição de espécies dentro das formações vegetais (fitofisionomia) também é elevada. Assim, definiu-se grupos fitofisionômicos com base na composição e densidade das populações de cada formação para melhorar a compreensão da variação da cobertura vegetal da Reserva. Evidenciou-se que os ambientes de cerrado stricto sensu apresentam quatro grupos fitofisionômicos e as faixas perenes de mata de galeria apresentam outros quatro grupos.

A RNVB contém rica e diversa flora arbórea, com a presença de espécies ameaçadas, endêmicas e, possivelmente algumas ainda desconhecidas pela ciência. Em relação ao status de conservação são consideradas ameaçadas de extinção, ainda que pouco preocupantes (LC) cerca de 10% das espécies, tais como: Guatteria sellowiana (Embira), Cochlospermum regium (Algodãozinho), Aspidosperma tomentosum (Pau-pereira), Stryphnodendron adstringens (Barbatimão), Terminalia argentea (Capitão-do-mato), Annona coriacea (Araticum) Magonia pubescens (Tingui), Lafoensia pacari (Pacari), Ouratea spectabilis (Vassoura-de-bruxa), Caryocar brasiliense (Pequi), Xylopia aromatica (Pimenta-de-macaco) e Byrsonima coccolobifolia (Murici-de-galinha). Apenas a espécie Bowdichia virgilioides (Sucupira-preta) é considerada quase ameaçada de extinção devido ao uso da madeira sem manejo efetivo e racional. Vinte e quatro espécies são endêmicas do Brasil, sendo nove espécies consideradas endêmicas do Cerrado: Andira cordata (Angelim), Callisthene molissima (Casquinha), Guapira noxia (Maria-mole), Heteropterys byrsonimifolia (Murici-macho), Miconia burchellii (Canela-de-velho), Ouratea spectabilis (Vassoura-de-bruxa), Virola urbaniana (Micuíba), Vochysia elliptica (Gomeira) e Vochysia gardneri (Pau-qualhada).

Há elevada diversidade beta (dissimilaridade florística e estrutural) entre formações savânicas e florestais da Reserva Natural Veredas dos Buritis (cerrado sensu stricto e mata de galeria) com mudanças abruptas na composição e densidade de espécies arbóreas. Resultados similares foram obtidos em outras localidades desse bioma, como na Chapada Pratinha, no Espigão Mestre do São Francisco e na bacia do Tocantins Araguaia, onde mosaicos de formações savânicas e florestais se alternam na paisagem conforme as características ambientais locais, em especial a geologia, relevo, topografia, classes de solos, assim como o histórico de incêndios e atividades agropecuárias.

Parte da variação das tipologias vegetais registradas na área de estudo pode ser dirigida por fatores naturais, como geomorfologia, relevo, material de origem (rochas), solos e profundidade do lençol freático, mas também pelo tipo de manejo antrópico, em especial ao regime (frequência e intensidade) do uso de fogo e a abertura e raleamento da vegetação para implantação de atividades agropecuárias.





Fauna

As diferentes fitofisionomias na RNVB (ver acima), propiciam habitat para uma ampla gama de animais, desde invertebrados até grandes mamíferos.

A fauna está sendo monitorada por meio de armadilhas de câmeras (camera traps), como parte da Rede de Monitoria Participativa da Fauna na Chapada dos Veadeiros. Uma primeira câmera trap foi instalada em dezembro de 2020 (Bushnell 119719cw) e a segunda (modelo chinês) em março de 2022. Já foram mais 600 registros em menos de um ano de instalação as câmeras.

Mamíferos de altíssima importância para a biodiversidade, como espécies ameaçadas, e bandeiras, já foram catalogadas na reserva, conforme a tabela e vídeos abaixo.

  • Anta - (Tapirus terrestris)

  • Tamanduá-bandeira - (Myrmecophaga tridactyla)

  • Jaguatirica - (Leopardus pardalis)

  • Mão-pelada - (Procyon cancrivorus)

  • Veado-catingueiro - (Mazama gouazoubira)

  • Tatu-canastra - (Priodontes maximus)

  • Cachorro-do-mato - (Cerdocyon thous)

  • Lobo-Guará - (Chrysocyon brachyurus)

  • Suçuarana - (Puma concolor)

  • Macaco Prego - (Sapajus Libidinosus)

  • Cateto - (Pecari tajacu)

  • Raposinha-do-cerrado - (Lycalopex vetulus)

Com relação a avifauna, a RNVB ainda não conduziu seu inventário. Na RPPN Vale das Araras, vizinha à RNVB, já foram registrados quase 200 espécies de aves na plataform eBird , o que indica a elevada riqueza em avifauna da RNVB.

Além disso, várias espécies de avifauna da Lista Vermelha da IUCN são encontradas no município de Cavalcante como o galinho (Alectrurus tricolor), o papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta), o andarilho (Geositta poeciloptera), o tico-tico-de-máscara-negra (Coryphaspiza melanotis), o caboclinho-de-chapeu-cinzento (Sporophila cinnamomea) e o tucano-de-bico-repto (Ramphastos culminatus). A avifauna será inventoriada e monitorada por meio de passarinhadas frequentes em parcerias (exemplo, com a SAVE Brasil ou a Birding Brasilia e Chapada).

Herpetofauna e invertebrados não foram ainda catalogados. Uma possível parceria seria com a Fundação Boticário para o levantamento da herpetofauna.





Ações de Curto e Médio Prazo

Objetivo

Preservar e biodiversidade de fauna e flora existente na reserva e transformar a Reserva em corredor biológico para a fauna da região. Como mencionado acima, a RNVB é habitat de uma grande riqueza de mamíferos, aves e outros táxons ainda não inventariados.


Ações

  • Proteger espécies ameaçadas de extinção como a onça-pintada, lobo guará e tamanduá-bandeira.

  • Monitorar a biodiversidade de mamíferos de grande e médio porte na área com câmeras trap e analisar padrões de movimentos das espécies, como parte da Rede de Monitoria Participativa da Chapada dos Veadeiros (www.redemonitoria.org).

  • A RNVB atualmente possui quatro câmeras trap, uma bushnell e três do modelo chinês. As câmeras são instaladas em pontos estratégicos da propriedade, onde há movimento da fauna como corredores de fauna. Esse trabalho é feito em parceria com os vizinhos da RNVB.

Para o médio prazo (a partir de 2022)

  • Realizar pesquisas sobre biodiversidade em parcerias com instituições nacionais e internacionais (ex. UnB, FUNATURA, Fundação Boticário)

  • Fazer inventário da fauna de aves (avifauna), por meio de passarinhadas recorrentes na área

  • Organizar eventos de ciência cidadã, como bioblitz para identifição de flora ou avifauna

  • Organizar eventos de educação ambiental com a população local, inclusive para visita à área das câmeras trap instaladas

  • Estabelecer um refúgio para aves em risco de extinção (tinamídeos – inhambu carapé e codorna mineira) para soltura no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e em outras áreas